Pelo
menos três deputados federais foram flagrados em ligações suspeitas com
integrantes do esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos de
fundos de pensão investigado na operação Miqueias, da Polícia Federal.
A PF solicitou que o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da
República abram investigação para apurar a possível participação de
autoridades com foro privilegiado
Na terça-feira (1º), a Justiça Federal decidiu remeter a operação
Miqueias ao Supremo, a quem cabe decidir se os deputados serão ou não
investigados.
Segundo a decisão da Justiça, os deputados Waldir Maranhão (PP-MA) e
Eduardo Gomes (PSDB-TO), "dentre outros", aparecem em conversas
telefônicas com o doleiro suspeito de comandar o esquema que movimentou
R$ 300 milhões em 18 meses. A PF também pediu investigação contra o
deputado federal David Alcolumbre (DEM-AP), que admite ter falado com o
doleiro apontado como um dos chefes do esquema dentro da Câmara dos
Deputados.
Além das conversas telefônicas, a PF identificou valores lançados numa
agenda do doleiro Fayed Traboulsi que levantou a suspeita de pagamentos
de comissão. O nome do deputado Eduardo Gomes, atual secretário de
esporte de Tocantins, aparece ao lado de valores, por exemplo.
Apesar de destacar que os deputados "em momento algum assumiram a
posição de investigados" até o momento, a PF identificou provas "que
apontam para o possível envolvimento desses parlamentares federais com
os objetivos da organização investigada", nas palavras do desembargador
Cândido Ribeiro. Por isso, ele determinou a remessa imediata das
investigações ao STF.
A decisão do desembargador surpreendeu tanto a PF quanto o Ministério
Público Federal, que apostavam no desmembramento da operação, ou seja, o
envio apenas das informações sobre investigados que têm foro
privilegiado.
Além dos dois deputados, há suspeita de participação de pelo menos um
governador, cujo nome é mantido sob sigilo, prefeitos e até funcionários
da Presidência da República e do Ministério da Previdência, estes já
exonerados de seus cargos.
David Alcolumbre nega qualquer ilegalidade, mas admite que conversou com
o doleiro "umas três vezes", entre elas na própria Câmara dos
Deputados. "Conversei sobre política, sobre meu Estado e a relação com o
Congresso. Não tenho relação nenhuma com o que a polícia investigou",
disse o deputado, dizendo que um dos encontros foi no "cafezinho" da
Câmara e outro na entrada do Congresso conhecida como "chapelaria".
Eduardo Gomes admitiu "conhecer socialmente" o doleiro há muitos anos, mas negou ter participado de qualquer atividade ilegal.
Gomes disse que Fayed o procurou e pediu indicação de prefeitos para
oferecer fundos de investimentos. "Os prefeitos fizeram reunião com
representantes da empresa de Fayed mas não fecharam nenhum negócio com
ele. Eu não tinha nenhum tipo de desconfiança de que pudesse se tratar
de uma atividade investigada por suspeita de ilegalidade", afirmou
Gomes, que nega ter recebido qualquer valor para intermediar os
encontros.
As investigações apontam que a quadrilha oferecia vantagens indevidas a
prefeitos e gestores de previdências municipais para que eles
investissem em fundos suspeitos, agora alvo da PF.
"De fato, variados diálogos interceptados indicam um estreito vinculo
dos lideres da organização criminosa com prefeitos. Em vários áudios
ficou evidente que o local onde funciona a Invista Investimentos e
constantemente frequentado por gestores municipais", diz relatório da PF
ao transcrever áudio no qual Eduardo Gomes fala com Fayed.
Na conversa, gravada em outubro de 2012, Gomes avisa que já está
chegando e que o prefeito de uma cidade do interior de Tocantins está
indo em outro carro. Eduardo diz que participou de reuniões para
apresentar "dois ou três prefeitos", mas reitera que não fez nada
irregular.
(Marciel Lima )