"Os hotéis não podem matar a galinha dos ovos de ouro."
Por Guilherme QUEIROZ
Um dos responsáveis pela intervenção do governo federal para
reduzir as diárias cobradas pelos hotéis para a Rio+20, o presidente da
Embratur, Flávio Dino, afirma que a postura da rede hoteleira do Rio de
Janeiro poderia afetar a imagem do Brasil no Exterior.
Em que momento o governo federal decidiu intervir nas diárias cobradas pelos hotéis no Rio de Janeiro?
No início de fevereiro, pedi um encontro com os empresários do
setor e disse: “A hotelaria tem um compromisso que está para além dela,
que é com a imagem do País, construída ou desconstruída, a partir de uma
exposição que nunca tivemos.” Mas, após a reunião, houve uma espécie de
tabela de preços. Quando o Parlamento Europeu cancelou sua vinda,
passou a se justificar uma intervenção do governo.
Sob qual argumento?
A presunção é da livre iniciativa como regulador dos preços. Porém,
quando se configurou uma prática abusiva de mercado, o governo tomou
uma posição.
A redução entre 25% e 60% das tarifas, prometida pela rede hoteleira, é suficiente?
É um patamar condizente com a demanda aquecida. Buscávamos um preço
compatível com a média nacional. Nesse episódio, nós agimos em defesa
do patrimônio maior, que é a imagem do Brasil no Exterior.
Como a Embratur pretende monitorar os preços?
Faremos uma pesquisa, analisando os dez maiores destinos mundiais e comparando-os com as diárias praticadas no Brasil.
Não há o risco de os empresários se sentirem constrangidos?
É algo a favor da competitividade e do País. Vamos nos comparar com
referências no mundo, como Nova York, Paris, Londres e Buenos Aires, e
ajudar nosso setor a praticar a lei da oferta e da procura sem matar a
galinha dos ovos de ouro.
Quais são as principais demandas da indústria do turismo?
O foco principal do que constitui a política pública do turismo – promoção, apoio e comercialização – é a competitividade.
É onde precisamos avançar para estimular novos investimentos do setor privado.
O turismo no Brasil cresce, mas ainda não somos um grande destino internacional. Por quê?
Temos um complicador que é nossa posição geográfica. Estamos a
milhares de quilômetros de grandes emissores de turistas. A maioria dos
visitantes é dos países vizinhos. Na Europa, 83% dos turistas são os
próprios europeus. A conclusão é que o turismo é intrarregional.
Qual é a estratégia para atrair mais sul-americanos ao Brasil?
Todos os grandes eventos que vamos sediar falam profundamente à
alma dos sul-americanos. Nossa ideia é transformar esses megaeventos em
eventos da América do Sul.
Por que a Embratur alterou a estratégia e decidiu reduzir a promoção do Brasil no Exterior?
Reduzimos os mercados prioritários para 17: os 15 maiores emissores
de turistas ao Brasil, mais o México e o Canadá, pela proximidade. No
passado, já chegamos a trabalhar 55 países, mas nossos recursos são
escassos.
O setor privado deve investir R$ 10 bilhões. É suficiente?
Para a expansão da oferta de leitos, sim. É 20% acima da nossa
capacidade atual. No entanto, as redes hoteleiras manifestam receio de,
após os grandes eventos esportivos, haver uma superoferta e grande
ociosidade. Eis por que se justifica nossa preocupação com o item preço.